Raios: Brasil deve ver aumento de descargas com crise do clima

FOLHAPRESS

Já se sabe que as mudanças climáticas intensificam ondas de calor, secas e afetam a saúde populacional. Porém, outro aspecto menos explorado, mas ainda assim problemático, também deve crescer com a crise climática: raios!

Pesquisadores do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) apontam que a mudança do clima deve levar ao aumento das descargas elétricas que atingem o Brasil, que já é campeão no quesito.

Considerando um cenário em que nada é feito e as emissões de gases-estufa permanecem como se encontram atualmente, o Brasil poderia saltar de 70 milhões de raios por ano para uma média de 100 milhões. Os dados constam no livro “Brasil: Campeão Mundial de Raios”, recentemente lançado por pesquisadores do Elat (grupo de Eletricidade Atmosférica), do Inpe, e que conta a evolução do monitoramento de raios no país.

A pedido da Folha de S.Paulo, os cientistas também desenvolveram estimativas para diferentes cenários de emissões do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas) nas regiões brasileiras.

No cenário intermediário do IPCC, por exemplo, de 2081 a 2100, a região Norte pode ter um aumento de até 30% no registro de raios. Em seguida, aparecem Centro-Oeste (24%) e Sudeste (18%).

Mesmo nos melhores cenários de controle do aquecimento global -que estudos mostram serem difíceis de acontecer- os aumentos no Norte, Centro-Oeste e Sudeste ainda ficam acima ou muito próximos a 10%.

E qual é o problema disso?

Em primeiro e mais grave lugar estão as mortes associadas aos raios.

Segundo Osmar Pinto Jr., coordenador do Elat e um dos autores do livro, junto a também pesquisadora do Elat Iara Cardoso, pode-se dizer que, com o aumento dos raios, é possível também que a situação de mortes se agrave.

Somada às perdas humanas, a queda de raios também pode ter um efeito econômico, com queima de máquinas, por exemplo.

Além da liderança em descargas elétricas, o Brasil está no top 10 de mortes no mundo. Um levantamento do Elat aponta que, de 2000 a 2019, foram 2.194 mortes por raios no país. O estado de São Paulo lidera esse ranking, com 327 óbitos, a maior parte deles na capital paulista. Manaus é o segundo na lista de mortes.

O número elevado de raios em São Paulo pode ser explicado pela poluição. Para um raio ser formado são necessárias partículas de água (que se formam por núcleos de condensação, que por sua vez são influenciados pela poluição) e partículas de gelo (que se formam a partir das de água). Nas nuvens de tempestade, os choques de gelo geram cargas elétricas que, ao excederem a capacidade isolante do ar, originam a descarga -relâmpagos, raios e trovões.

Já para o caso de Manaus e para o grande número de descargas no Norte, há outros pontos em jogo.

“A floresta tem uma interação muito grande com a atmosfera, ela é a responsável pela umidade que vai dar origem às tempestades [e consequentemente aos raios]”, diz Pinto Jr.. “Mexer na floresta é mexer na quantidade de raios no futuro.”

E aí entra outra questão que tem tudo a ver com a crise climática: o desmatamento, maior fonte de emissões de gases-estufa no Brasil.

O Brasil vem apresentando dados elevados de desmate na Amazônia, em comparação ao histórico da última década. Nos últimos meses, a floresta perdeu áreas superiores a 10 mil quilômetros quadrados.

O pesquisador afirma que, na Amazônia, as descargas elétricas causam a morte de milhares de árvores por ano, mas, por causa da elevada umidade, o raio atinge a vegetação e não causa incêndios.

“Os raios e as árvores estão em equilíbrio”, diz Pinto Jr.. “Se os raios aumentarem, pode aumentar o número de árvores mortas e gerar um desequilíbrio na estrutura.”
Como se proteger Segundo o pesquisador do Inpe, a principal maneira de evitar tragédias com raios é a partir da informação.

Em tempestades, por exemplo, o indicado é evitar o uso de equipamentos que estejam ligados à rede elétrica e também não ficar perto de tomadas dentro de casa.

Outra indicação é não usar o telefone com fio ou um celular que esteja conectado ao carregador. Banhos em chuveiros elétricos, proximidade com janelas e portas metálicas, e com torneiras e canos também devem ser evitados. Mesmo prédios com para-raios não estão totalmente protegidos.

Durante tempestades, vale procurar abrigo e não ficar em áreas abertas ou próximo a corpos de água.

Facebook
Twitter
LinkedIn
Pinterest
%d blogueiros gostam disto: