Aline Almeida – Gazeta Digital
Número de suicídios em Mato Grosso aumentou 44% no período de 4 anos, entre 2015 e 2018. Os óbitos saíram de 150 registros para 216. Os dados são do boletim epidemiológico da Secretaria de Estado de Saúde (SES) divulgados nesta segunda-feira (21). A taxa de mortalidade a cada 100 mil habitantes saiu de 4,6 para 6,4. Nos 4 anos compreendidos no levantamento, 738 pessoas tiraram a própria vida no Estado. As lesões autoprovocadas -tentativas de suicídio, automutilação – chegaram a 1.753 registros no mesmo período.
O boletim aponta ainda que a maioria dos casos envolve jovens de 15 a 29 anos. É a terceira maior causa de morte nesta faixa etária em Mato Grosso entre os homens e a 7ª entre as mulheres.
A taxa de suicídio a cada 100 mil habitantes para o sexo masculino fica em 12,3. Para as das mulheres é de 3,1 a cada 100 mil. Para a psicóloga Laura Ribeiro, o aumento dos casos de suicídios pode estar diretamente ligado à desestrutura da família e a falta de tempo para ouvir o outro.
“Os maiores casos de suicídio estão exatamente na faixa etária dos jovens. E esta desestrutura familiar traz um cenário para que os casos aumentem. Muitos pais não acompanham a vida do filho e não sabem o que passa com ele”, ressalta.
Laura Ribeiro frisa que é muito comum que o suicídio esteja motivado por um quadro depressivo. E ficar atento aos pequenos sinais é uma forma de salvar vidas. “A pessoa isola, sente sozinha, desamparada, isso torna mais propício. O suicídio é uma patologia e as pessoas querem apenas amenizar a dor”, afirma.
Para a psicóloga, o assunto não deve ser tratado como tabu e as pessoas precisam falar sobre o ele, pois somente assim os casos serão reduzidos. No caso dos jovens e adolescentes é preciso reforçar o diálogo familiar, acompanhar o que os filhos estão fazendo na internet e atentar as mudanças de comportamentos. O isolamento social, deixar os hábitos de higiene, são apontamentos para redobrar a atenção. “As pessoas ainda tem medo de falar de suicídio. E ainda tem a percepção de que ir ao psicólogo é coisa de louco. Ao contrário, precisa virar rotina como, por exemplo, a ida ao ginecologista”, complementa.
Técnica da SES, e uma das responsáveis pelo estudo sobre o suicídio, Tânia Maria do Rosário frisa que o tema passou a ser abordado com mais naturalidade pelas pessoas. É exatamente o rompimento do tabu e a capacitação com profissionais aptos à escuta qualificada que vão trazer resultados. O problema pode afetar indivíduos de diferentes origens, classes sociais, idades, orientações sexuais e identidades de gênero, mas pode ser prevenido. Saber reconhecer os sinais de alerta em si mesmo ou em alguém próximo a você pode ser o primeiro e mais importante passo.
“O suicídio é um problema social complexo e não existe uma única causa. Pode estar ligado ao alcoolismo, à violência sexual, à internet, e muitas outras conjunturas”.
Tânia Maria enfatiza que a Secretaria de Saúde vem capacitando a rede de atenção e, principalmente, os profissionais para identificar os sinais nos pacientes. Ressalta ainda que os Centros de Atenção Psicossocial (Caps) estão aptos a receber pacientes, assim como unidades de saúde primária e secundária. Para ela, as pessoas precisam falar o que estão sentindo. O preconceito ou o medo fazem com que muitos se calem e não busquem ajuda qualificada. “As pessoas também precisam compreender que quem se automutila, quem tenta um suicídio não é por fraqueza ou para chamar a atenção. Essas pessoas precisam de ajuda”, avalia.
O relatório da SES conclui que, apesar de ser um sério problema de saúde pública e social no Brasil, há poucos relatos que indiquem formas eficientes de lidar com o suicídio. Indica ainda a escassez de programas governamentais de qualificação para os profissionais da saúde no sentido de atuação e manejo nestes casos.
Como estratégias de combate, a secretaria destaca a necessidade de organizar a rede de assistência social. E ainda a construção de Caps nos municípios e promover parcerias com instituições.